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Porque a maioria das pessoas não conseguem se libertar dos traumas

Porque a maioria das pessoas não conseguem se libertar dos traumas

21 de agosto de 2018

Porque a maioria das pessoas não conseguem se libertar dos traumas ou memórias de sofrimento do passado? Por que estas pessoas permitem que estas dolorosas experiências influenciem o seu presente e controlem o seu futuro?
Quando escutei o podcast do renomado Tony Robbins sobre estas questões e ouvi o depoimento de uma mulher que conseguiu se libertar de um trauma de abuso, senti no meu coração vontade de escrever e compartilhar para mais pessoas. Afinal, porque uns conseguem e outros nem tentam?
Acredito que, no fundo, muitas pessoas sofridas pelo passado não tem nem ideia do que aconteceria com suas vidas se deixassem para trás o passado e se libertassem da experiência dos sofrimentos.
Meu propósito enquanto psicóloga e minha experiência no desenvolvimento de pessoas em empresas me permitiu conhecer muita gente em sofrimento por conta do passado. Em alguns casos, escuto tentativas frustradas de sair deste lugar, mas o que quero acrescentar é que muitos nem tentam desapegar do sofrimento. Grudam como se fossem de estimação e falam com tanto apego que quase parece carinho. Tipo: “Este é o meu medo”, “Há muito tempo eu tenho este pavor”, “Sou assim… desde que me conheço por gente”.

O que está por trás do desafio de se libertar dos traumas do passado

Acredito que tão terrível quanto às histórias de abuso, de carências ou do episódio traumático é o medo inconsciente de não saber mais o que fazer ou como viver sem a presença e a influência do que aconteceu.
O que acontece internamente é uma identificação que a mente faz com os eventos do passado. Quanto maior a carga emocional e quanto maior o impacto e a ferida, maior a memória e a identificação com o episódio-sofrimento.
Afinal, é você que interpreta e dá significado aos eventos da sua vida, assim como direciona a força para conduzir suas escolhas e construir o seu futuro. O que acontece é que este processo também é, muitas vezes, inconsciente.
Em alguns casos, por exemplo, o sofrimento pode estar a serviço de uma necessidade que se encaixa perfeitamente no buraco da carência afetiva ou tampa exatamente a ferida emocional. Isto significa que, além do sofrimento em si ser ressentido, ele se torna um ganho secundário que atende algumas necessidades inconscientes, mas impede a cura ou a libertação. Em outros casos, a identificação com o sofrimento pode ser uma compensação do sistema familiar ou uma repetição de destinos.
Geralmente, pessoas que passam por experiências assim, sem querer, dão poder ao sofrimento emocional, mantendo-se presas às pessoas que as machucaram ou as narrativas do passado.Isto acontece porque os eventos passam a fazer parte de suas identificações e são alimentadas pela atenção e pelas histórias que contam de si.
Dentro desta perspectiva, a pessoa não acredita na possibilidade de mudar a sua história. Por exemplo, a mulher do depoimento acima foi “a mulher que foi abusada” durante anos. Esta foi a sua identidade, secreta ou não. E somente quando ela se libertou, ela pode se tornar “a mulher que superou o abuso”. Esta simples e poderosa palavra de superação muda toda a sua crença, a sua postura interna e, por conseguinte, a sua própria história. Neste caso, ela encontrou inclusive um propósito maior de ajudar outras mulheres a se libertar do passado e curar suas próprias feridas.

O maior desafio

O maior desafio é mudar a mente que tem dificuldade de desaprender e de desapegar. Tony nos diz que pior do que o vício do álcool ou da cocaína é o vício por problemas. A mente não controlada, ampliada ou transformada acredita que precisa de problemas para fazer sentido (quando não tem problemas, os cria).
Outro desafio da mente é que ela mente e diz que é impossível se livrar do sofrimento, perdoar aqueles que o provocaram ou que não existe motivo nem importância para remexer neste assunto. A mente faz o possível para convencer a pessoa deixar quieto e repetir os padrões de identificação com o problema.
Desta forma, o caminho é mudar o padrão mental. Não existe receita, entretanto, existe uma jornada que é buscar o autoconhecimento e ampliar o conhecimento sobre as questões humanas e suas dinâmicas para construir e sair dos próprios buracos criados no mundo externo.
A chave está no mundo interno e cabe a cada um descobrir aonde a perdeu (ou a escondeu). Muitas vezes, é dolorido relembrar o episódio traumático ou o passado sofrido. Para nossa mente, relembrar é reviver. Muitos sentimentos são (re) sentidos nestas lembranças. Porém, é onde está a cura.
A mente também cria um monte de defesas para não se entrar em contato e quebrar o padrão já criado por identificação e reforçado pelas lembranças e ressentimentos do passado.  Mesmo sofrido, este é um lugar conhecido e confortável para a mente que tem pavor do desconhecido. Este poderia ser o seu novo eu ou a sua nova identidade que construirá um capítulo diferente da sua história de vida.
Aquela mulher que superou o abuso descobriu que seu sofrimento levava a uma vitimização que atendia sua necessidade de certeza e de exclusividade enquanto mulher abusada. Quando descobriu esta dinâmica e estes ganhos secundários percebeu que não valia a pena. Decidiu, portanto, se sentir especial e única de uma outra forma, sem precisar daquela identidade e daquele ressentimento. Descobriu também que usava aquilo para justificar seus fracassos e medos da vida e do futuro. Ela poderia dizer para si mesmo e para os outros: “Também, como poderia ser diferente ou conseguir algo melhor com o meu passado!” ou “Agora você entende porque minha vida é assim?”.

O desafio de se libertar do passado

Não é fácil superar as dores da alma, porque não é fácil entrar em contato com a ferida aberta e curá-la. Muitas vezes é necessário cuidado e acompanhamento profissional. Assim como autocompaixão na dose certa e muita coragem para despertar a guerreira dentro de você. Semelhante a águia que se isola para arrancar suas velhas penas e quebrar o seu bico torto pelo tempo, o processo de renascimento ou libertação para um novo ciclo envolve o mesmo antídoto: o próprio sofrimento.
O desafio é mudar o padrão, o que implica uma forte decisão seguida de um novo foco ou de nova atenção repetida. Esta, por sua vez, é o alimento do padrão mental. Quanto mais você fala dos seus sofrimentos e se identifica com eles, dizendo: “eu sou assim” ou “é por isso que eu sou assim”, etc., mais se reforça este tipo de realidade.
Quem cria a realidade é a sua mente, logo, para mudá-la é preciso reprogramá-la. Simples de falar, mas surpreendentemente rápido quando uma pessoa decide sair do papel de vítima e assumir como protagonista da própria vida.
Comigo foi assim, uma espécie de “chega!” bem na cara da minha timidez aos 13 anos de idade. Incrível como uma decisão tão simples tomada no meio de um processo psicoterapêutico e acompanhada por um compromisso de novas atitudes foi um grande decisor para a identidade e a vida que tenho hoje.
Conhecer relatos inspiradores ou histórias de superação como a da apresentadora Oprah ajuda a ampliar modelos e reforçar a crença de que é possível. Entretanto, este processo depende exclusivamente de você.
Por acaso, você tem ideia do que aconteceria com a sua vida se você deixasse para trás o passado e se libertasse da experiência dos sofrimentos? Você consegue imaginar o que poderia fazer se transformasse o seu trauma em experiência e aprendizado?
Acredito que este é um desafio que vale a pena superar. Não digo apenas para pessoas, mas também para organizações que precisam transformar uma cultura limitada e sofrida.
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