Pode parecer mórbido, mas sinto que damos mais valor à vida quando estamos próximos da morte. Quanto mais próximo ou consciente da morte, menos máscaras, superficialidades, mentiras, ego, desperdícios ( de tempo e de energia), enfim, mais próximos ficamos do que é essencial nessa curta existência.
Costumo dizer que somos inquilinos de nosso corpo e podemos ser mandados embora sem aviso prévio. Uma verdade pouco refletida diante do automatismo que a maioria das pessoas tem vivido. Elas estão tão anestesiadas e iludidas que nem percebem que estão repetindo uma programação mental antiga e ineficiente. Poucos com maior consciência fazem diferente, não repetem destinos e param de dar corda ao ciclo vicioso do sofrimento. Entretanto, a maior parcela da humanidade, conforme Dr. Inacio de Loyola, “está evoluindo a passos de lesma”, e digo mais, ocupando e preocupando em sobreviver ou viver de acordo com valores do ego. Sabe aquela máxima de comprar com o que não tem para agradar quem não conhece?
Lidando com as falsas verdades
Aprendemos tantas falsas verdades e fomos condicionados a pensar que “tem que ser assim”, ” é isso que temos”, ” é assim que somos”, ” o certo é …” O nosso ego criou uma zona de conquista ou de conforto. A partir desse lugar a mente não precisa estar presente nem fazer novas conexões diante dos novos estímulos do momento. Ela simplesmente recorre a essa zona de programações antigas e guardadas como um troféu.
Quantas pessoas seguem cegamente essas ” verdades” e vivem esse paradigma de estudar para trabalhar para ganhar dinheiro para casar para ter filhos para trabalhar ainda mais para consumir ainda mais e agradar e ser aceito pela sociedade que dita os valores que foram aprendidos no passado e engolidos no presente?
Quantos ainda acreditam que o importante é ter e não ser? Quantos descobriram que nem importa tanto ter, mas parecer que tem? Quantos dão valor e conceituam desenvolvimento pela compra de um carro novo ou uma casa maior? Admiro Edgar Morin quando diz que o conceito de desenvolvimento é subdesenvolvido! Quantos ainda trabalham ou criam uma empresa só para ganhar dinheiro? Quantos países ainda medem seu desenvolvimento pelo PIB ( produto interno bruto) e quantos de nós nos alegramos quando ouvimos falar que existem países e até empresas que estão medindo seu desenvolvimento pelo FIB (Felicidade Interna Bruta) E como conseguimos ser felizes?
Não tem receita: mas ingredientes essenciais como gratidão, integridade, fé, amor e bondade. Ainda não conheço alguém verdadeiramente feliz sem esses ingredientes!
Currículo profissional ou pessoal? O que vale mais?
Quantos ainda selecionam colaboradores pelo currículo profissional, que apenas nos mostra as datas e os locais de trabalho e o que fizeram profissionalmente no passado?
Se somos espíritos vivendo em um corpo por um curto estágio, o mais coerente é saber como vivemos, se encontramos o caminho da verdade e da integridade, quanta bondade fizemos e o quanto aprendemos a amar.
Que pena a humanidade ter perdido sua essência e seu propósito! O sofrimento que vemos e sentimos só é o indicador que nossa alma utiliza para mostrar esse afastamento e a distorção de valores que perdemos ao longo dessa jornada! Até quando as pessoas precisarão passar pelo caminho da dor para despertar para o essencial?
Concordo com Gilberto Dimenstein quando ele diz que somos do tamanho da nossa contribuição.
Há tempos deixei de buscar o que já estava dentro de mim. Há tempos simplifiquei minhas crenças e minha vida para me aproximar do essencial (que de verdade é invisível aos olhos!). Há tempos sinto-me realizada em trabalhar a serviço do meu propósito. E como ainda me percebo desperdiçando meu tempo e tendo que me policiar quanto ao meu ego!
Sei que o caminho se faz ao caminhar e que o que vale é o valor que temos, não nossas posses, títulos ou cargos. Mas temos muito chão pela frente nessa jornada de evolução. Como o mundo seria melhor se as pessoas se ocupassem em viver e se relacionar de acordo com princípios essenciais. E quem sabe, conseguíssemos mostrar que o currículo mais importante nessa vida é o depois da morte!