Muito tem se falado sobre feminismo ou ser feminista. O mundo mudou e com ele a percepção sobre a mulher e o seu papel na vida. Mas junto com esta jornada percebo muita confusão e distorção sobre estes conceitos. Afinal, o que é ser feminista?
As palavras tem o poder de abrir compartimentos da mente recheados de significados e interpretações.
Logo, não adianta discutir diferenças quando cada um tem o seu conceito sobre cada coisa.
Não adianta buscar convencer o outro sobre a sua verdade quando cada um vê através de suas próprias lentes e filtros mentais.
Não adianta e nem faz sentido se indignar ou se revoltar com a crença do outro. Afinal, não existe certo ou errado ou qualquer julgamento quando estamos neste lugar tão íntimo e individual que é o mundo interior de cada um que contrói a sua visão de mundo (ou paradigma).
Jung conseguiu explicar quando estes conceitos se tornam crenças universais chamadas arquétipos. Por exemplo, quando uma pessoa fala mãe, existe um conceito geral que aciona uma imagem de uma mulher que dá a vida a um filho, cuida e se sacrifica por ele além de ajudar a manter a família unida.
A palavra feminista, por exemplo, para algumas pessoas, é traduzida pela imagem de uma mulher mal amada, revoltada e guerrilheira que luta pelos seus direitos de forma inflamada, que levanta uma bandeira contra os homens e o exclui de seus movimentos. Ou seja, julga e separa o bem do mau e foca apenas na irmandade feminina de mãos dadas onde ninguém larga a mão da outra numa marcha contra uma barricada masculina.
Complementando, o perfil do esteriótipo feminista, imagina se uma mulher que usa e abusa de características masculinas, como a agressividade e a competição (com os homens, claro!) e adora mostrar sua força através de poses masculinas e ar de superioridade.
Muitos homens, abrem esta caixa mental e tem este conceito sobre ser feminista.
Posso dizer que há um tempo atrás, meu marido também fazia parte deste lugar. Por trás de seus comentários percebi o medo de ver sua mulher surfar nesta onda radical cujo movimento exclui e agride os homens, uma vez que os vê como algozes.
Não adiantava tentar convencê-lo do contrário, esta imagem foi construída por suas crenças que traduziam e conceituavam o que era ser feminista.
Acontece que no ponto de virada do paradigma de qualquer época, a tendência é partir para o extremismo. O caminho, a meu ver, não é nem um e nem outro extremo, mas o caminho do meio, da inclusão dos diferentes, da aceitação, do respeito e da parceria.
Com base no principio de que todo extremo é perigoso e de que todo excesso é veneno, seria natural pensar que se o machismo não é algo bom, logo, o feminismo também não é. Acontece que o contrário de machismo não é feminismo, mas femismo. Seu oposto extremo e antagônico.
Feminismo não é ser contra os homens, mas a favor das mulheres. Simples assim, o complica e distorce é a mente com toda a sua subjetividade que dá significados as palavras.
Particularmente não gosto da palavra feminismo, justamente porque abre muitas destas portas mentais equivocadas de sua verdadeira essência.
Prefiro o termo humanista para evitar distorções conceituais, mas feminismo é diferente e precisamos entender o que é.
O que é feminismo?
Feminismo no dicionário é uma doutrina que preconiza o aprimoramento e a ampliação do papel e dos direitos das mulheres na sociedade. O Wikipédia define o feminismo como um conjunto de movimentos políticos, sociais, ideologias e filosofias que têm como objetivo comum: direitos equânimes e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões patriarcais, baseados em normas de gênero.
Outro conceito de feminismo é o movimento social que luta contra a violência de gênero e pela igualdade de direito e de condições das mulheres.
É isso! Ser feminista é apoiar estes movimentos que são a favor das mulheres e que não tem nada contra os homens, mas sim contra uma cultura machista que as desvalorizam e as prejudicam.
Dados de realidade
Infelizmente milhares de mulheres ainda sofrem nas mãos de homens que perpetuam um padrão de desrespeito, violência e ignorância proveniente do machismo. este padrão é sistêmico, ou seja, proveniente dos seus sistemas coletivos, familiares e sociais.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil encontra-se em quinto lugar na posição de homicídios a mulheres, com 4,8 homicídios por 100 mil mulheres, estando abaixo apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia.
O estadão publicou os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública que revelam que o Brasil registrou 1 estupro a cada 11 minutos em 2015, calculando a medieval taxa de quase meio milhão de estupros a cada ano.
Na Fonte: Relógios da Violência, do Instituto Maria da Penha), a cada 7.2 segundos uma mulher é vítima DE VIOLÊNCIA FÍSICA.
Indicadores revelam que as mortes de mulheres negras estão aumentando em 54% enquanto o de brancas diminuiu (9,8%). (Fonte: Mapa da Violência 2015)
Somente em 2015, a Central de Atendimento realizou 1 atendimento a cada 42 segundos, somando quase 5 milhões de atendimentos desde 2005.(Dados divulgados pelo Ligue 180)
2 em cada 3 universitárias brasileiras disseram já ter sofrido algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral ou física) no ambiente universitário. (Fonte: Pesquisa “Violência contra a mulher no ambiente universitário”, do Instituto Avon, de 2015).
Bom, os dados são muitos, mudam muito e estão todos disponíveis na internet.
Será que esta realidade já é um bom motivo para continuar e aumentar o movimento feminista, ou seja, a favor das mulheres?
Alguns homens já se intitulam feministas atuando a favor de suas causas, mas muitos ainda não sabem o que é e nem como surgiu.
O surgimento do movimento feminista
O feminismo surgiu como um movimentos contrário à violência e a desigualdade das mulheres.
A primeira onda de feminismo surgiu no final do século 19 e início do século 20 nos Estados Unidos e na Europa a partir do contexto de “sociedade industrial e política liberal”.
A preocupação com a igualdade de acesso e oportunidades para as mulheres desencadearam os “grupos feministas” marcando um período de “sufrágio, independência, direitos à nacionalidade, trabalho e igualdade de remuneração” para as mulheres.
A segunda onda de movimentos feministas foi no final do pós guerra, dos anos 60 até o início dos anos 70 sendo caracterizada como um período de libertação das mulheres e o surgimento de um ramo do feminismo conhecido como “feminismo radical”, caracterizado por movimentos pró direitos civis e igualdade que condenava o “capitalismo”, o “imperialismo” e a “opressão” das pessoas com base na noção de raça, etnia, identidade de gênero e orientação sexual.
A terceira onda de feminismo é a do contexto atual liderada por jovens feministas que fazem parte de uma ordem mundial globalizada com o advento de novas tecnologias e com o foco em questões mais complexas como violência e políticas de identidade, gênero, raça, classe e idade”
Lutas e conquistas
Muitos movimentos e grupos feministas, tanto a nível nacional como internacional conseguiram uma melhoria das condições das mulheres através do lobby de autoridades estatais e representantes eleitos, exigindo conferências sobre “questões de gênero”, assim como a criação de “santuários, abrigos” e uma prestação de serviços que ajudem a proteger mulheres vitimizadas de atos de violência.
De acordo com estudos do senado federal, Nos anos 2000, é possível apontar uma evolução tanto na legislação quanto no desenvolvimento das políticas públicas relativas ao enfrentamento à violência contra as mulheres.
Mesmo assim, o feminismo incomoda e ameaça muitos, assim como o machismo. A grande diferença é que o machismo mata e o feminismo procura impedir mais mortes.
Como seria o mundo sem as feministas e os seus movimentos ?
Enquanto a humanidade não amplia a sua consciência coletiva para o equilíbrio e integração das energias feministas e masculinas para uma nova onda humanista, ainda precisaremos de feministas.
Seria um sonho realizado não termos mais feministas, porque seria o mesmo de não termos mais machistas. da mesma forma que temos homenagem ao dia da mulher, ao dia internacional da mulher entre outras. Por que só existe o dia da mulher e não existe do dia do homem? As homenagens são formas de honrar sofrimentos do passado, impedir o seu esquecimento e sua a repetição.
O pesadelo, por outro lado, é a sua inversão, ou seja, a repetição inversa do machismo, ou seja, o aumento do femismo, ou a sua inflamação radical pela indignação e raiva do passado e, ainda, do presente.
Esta distorção do feminismo é que confunde e prejudica todos. O movimento “radical feminista” tem a mesma narrativa de exclusão e agressividade do machismo.
Triste realidade que reflete apenas uma ferida não curada e uma necessidade de ferir para compensar, sem perceber a repetição inconscientemente do mesmo processo doentio. (Agora, quem está agredindo, desvalorizando e excluindo quem?)
A esperança é que este movimento de mulheres revoltadas e radicais também evolua e que elas percebam que o caminho é pela força do feminino e não pelo poder do masculino.
A força do feminino, por sua vez, tem a ver com gerir, cuidar da vida, acolher, tem a ver com o afeto , a intuição, o diálogo, a colaboração e a integração.
Somente com a evolução através desta integração é que um dia as mulheres feministas poderão andar de mãos dadas uma com as outras e com os homens feministas também, num só movimento com o mesmo propósito: vivermos em paz com nossas diferenças.
E aí? O que você acha de ser feminista? Por acaso você conhece um grupo chamado Mulheres do Brasil? Venha conhecer aqui neste link. Vamos ajudar o Brasil a partir da força do feminino!
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