O que a globalização, a tecnologia e as grandes inovações nas empresas têm em comum?
Dentre tantas afinidades, como a velocidade dos dados, a complexidade de suas conexões e suas infinitas possibilidades, elas possuem um mesmo desafio: a necessidade da ética.
Numa era sem muitos limites e privacidade onde as informações são compartilhadas quase que na velocidade da luz, compliance e sigilo parecem ser um novo desafio para uma nova e presente era.
Refletir e agir nestas questões éticas é, portanto, de extrema importância. Não digo apenas pelas informações sigilosas de empresas que lidam com informações confidenciais de outras empresas, que lidam com a privacidade de outras pessoas. Digo pelo impacto destrutivo que a falta deste cuidado geraria e afetaria todos nós.
Afinal, o que acontece quando as pessoas não se orientam por uma bússola moral que busca o bem comum?
O que acontece quando uma pessoa se beneficia em detrimento de outros?
Como as pessoas se sentem quando suas informações não estão protegidas?
Em outras palavras, como as pessoas reagem com a falta da necessidade básica e fundamental para se viver em comunidade que é a segurança?
O preço a se pagar
Dentro de uma perspectiva social, o pior que pode acontecer com a falta de ética é a falta de confiança em nossas relações e a perpetuação de uma cultura individualista e corrupta que desequilibra o sistema coletivo e provoca tantos males.
Imagine o caos que seria conviver com o medo e a insegurança generalizada, por não haver nenhum código de conduta com base na integridade e no bem comum!
O problema é que ter manuais, regras e leis não são suficientes e por si só não funcionam. Uma das formas mais fáceis de enxergar é através dos sintomas, doenças, conflitos, perdas, falências, escândalos, sofrimentos e padrões de tudo isso!
Os sintomas são vários e visivelmente percebidos em doenças psicossomáticas como síndrome do pânico, ataques de ansiedades, sintomas provocados por stress, como ataque cardíacos, burn out, depressão, etc.
Por que algumas pessoas e organizações pagam estes preços?
Quando uma pessoa foca apenas nas suas próprias necessidades e cria para isto suas próprias regras e meios para obter o que deseja, ela prejudica e se desconecta do sistema coletivo.
Viver sem ética, desta forma, causa desarmonia, uma vez que fere o princípio essencial de equilíbrio e movimenta inconscientemente todos os sistemas para que haja compensação e reequilíbrio. Sabe aquela máxima que diz que se colhe o que se planta? Então, é assim que funciona.
Desta forma, não adianta se atentar para que ninguém saiba das atitudes em desacordo com a ética que tomou no passado (ou tem a intenção no presente). Uma hora a conta chega e com juros!
A impunidade cobrada pela consciência individual é que provoca o peso e o sofrimento, além de acionar o movimento de compensação da consciência coletiva e sistêmica.
Esta justiça implacável e invisível aos olhos é um dos motivos para não ser o juiz de ninguém, muito menos sofrer com a raiva pelos efeitos nocivos da falta de ética provocada por outrém. Mesmo que a justiça articulada pelas pessoas dentro do seu sistema coletivo não funcione, a justiça sistêmica mostra, mesmo que nas próximas gerações, que o preço a pagar pelo desequilíbrio sempre chega.
É um processo natural que busca manter o funcionamento dos sistemas entre si. Quando uma pessoa (ou organização) foca apenas nas suas próprias necessidades e cria para isto suas próprias regras e meios para obter o que deseja, ela prejudica e se desconecta do sistema coletivo maior que faz parte.
Somos seres coletivos, esta desconexão é causa de muitos sintomas e prejuízos. Enquanto o prejuízo externo é visível (exemplo da perda de algo ou alguém), o prejuízo interno causado pela desconexão do coletivo aparece através dos sintomas físicos, mentais, emocionais e espirituais (cabe a cada um analisar suas causas, resolver suas pendências ou pagar o preço pelo desequilíbrio causado).
Alguns exemplos
Tomar consciência da interdependência de tudo e todos permite imaginar, por exemplo, os impactos destrutivos que o vazamento de uma informação sigilosa pode causar numa empresa, nas pessoas, nas suas famílias e comunidades.
Primeiro, informação não vaza, pessoas compartilham informações sigilosas, assim como desviam dinheiro para se ter vantagens ou recebem propina para privilegiar aqueles que mantêm o mecanismo de corrupção em funcionamento. Segundo, na porosidade dos fluxos de comunicação e sua velocidade, informações sigilosas são como vírus de alto contágio que ao serem expostos na rede, seja virtual ou não, espalham mais do que plumas de um travesseiro rasgado em cima de um telhado em dias de vento forte. As consequências inimagináveis e irrecuperáveis.
O que fazer? Racionalmente, podemos dizer que é só não fazer ou não correr o risco para que isto aconteça. A conscientização aliada à prevenção é o melhor caminho. Entretanto, não é tão simples assim. É Importante, portanto, reforçar que não adianta dizer que não pode para o indivíduo contaminado com o vírus da corrupção, ele só vai ter mais cuidado para não ser pego.
Sob uma perspectiva mais orgânica e ampliada, a corrupção é uma doença endêmica e sistêmica. Suas ações são apenas sintomas de uma cultura ou de uma dinâmica interna que é a própria causa ou fonte de mais sintomas e casos onde o ego se impõe em detrimento da essência, do bem comum. O que é relevante esclarecer é que este é um processo, muitas vezes, inconscientes onde indivíduos são perpetuadores leais dos seus sistemas familiares que fazem parte. Quebrar este ciclo vicioso demanda um processo profundo de consciência, harmonização e escolha.
A constelação sistêmica é extremamente eficiente nestes casos. O juiz SamiStoch realizou um trabalho com esta técnica e obteve sucesso nos trabalhos com os adolescentes que foram presos. Ele relatou que apenas 30% voltaram ao crime, sendo que a estatística é de 80%.
Não distante da realidade corporativa, os problemas éticos causam prejuízos incalculáveis. Vivemos uma crise tão grave que não é à toa que cada vez mais as empresas estão criando e fortalecendo uma área específica chamada compliance para cuidar dos acordos, princípios e valores compartilhados, e, assim, garantir o fluxo saudável das pessoas e das informações.
O pior cenário é a banalização do absurdo da falta de integridade e a falta de sigilo frente às informações confidenciais. Quando as pessoas começam a achar normal e a mensurar os delitos com mecanismos inconscientes como a racionalização, a situação é grave.
Não existe delitos pequenos ou grandes, delitos são delitos. Tudo é falta de ética. Roubou pouco, roubou muito, foi só um presente, só contei para minha mulher. Todos os exemplos ilustram uma não conformidade com valores compartilhados e acordos para manter a segurança e a confiança de todos.
O desafio
O desafio do compliance é, portanto, muito maior do que envolver todos os funcionários na bússola moral da empresa, é despertar dentro de cada um deles a sua própria bússola moral e alinhá-la com a da empresa.
Regras impostas muitas vezes são como organismos estranhos combatidos e rejeitados pelo próprio organismo. Num mundo de rápidas mudanças, onde são criadas novas leis para um monte de coisas, é preciso focar em princípios. Eles, por sua vez, são despertados de dentro para fora a partir da ampliação de uma nova consciência e perspectiva.
Quando se fortalece princípios essenciais, diminui-se a necessidade de regras e diretrizes. Quando se amplia a visão sistêmica, amplia-se também a consciência dos impactos futuros e, principalmente, a co-responsabilidade deles.
Viver em compliance ajuda a viver em harmonia e, por consequência, a ter paz e se relacionar com saúde.
Longe de ser sigilo, todos nós temos as mesmas necessidades e princípios. Logo, se ajustarmos o foco no bem comum e respeitarmos os combinados de compliance, o futuro globalizado, conectado e assustadoramente inovador e tecnológico pode descansar em uma base sólida capaz de sustentar o essencial da vida, trazer mais saúde e paz para nosso presente e nos deixar um melhor legado para as futuras geraçōes.
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