Você já ouviu falar em Organizações Orgânicas?
Desde o começo da nossa história gostamos de dar nomes ao que existe e ao que é criado (ou adaptado). Muitas vezes damos nomes diferentes para as mesmas coisas, outras vezes, adaptamos até mesmo os nomes para acompanhar as novas coisas.
Mas será que o termo “orgânico” para as Organizações Orgânicas traz o total e correto entendimento deste novo tipo de organização?
O nome orgânico, por exemplo, no geral, remete à algo vivo e natural, sem pesticidas ou tóxicos. Até aqui, o termo faz todo sentido para o que queremos entender, uma vez que o termo implica nos princípios dos sistemas vivos como a vida, a sua interdependência e a busca pela saúde e pelo equilíbrio do ecossistema como um todo.
Entretanto, mesmo aparentemente simples, o termo “orgânico” é complexo e pode ser confundido como algo meio caótico, sem esforço, tipo que vai acontecendo naturalmente sem ter um responsável. O crescimento orgânico, por exemplo, também afasta o entendimento do nosso tema, uma vez que pode ser entendido como um crescimento mais lento, natural, sem fusões ou intervenções de fora.
Estas idéias, são alguns exemplos de confusões conceituais e não cabem para as Organizações Orgânicas. Então, vamos esclarecer.
Acredito que o termo “Orgânico” tenha sido usado para mostrar a diferença de um outro tipo de Organização muito comum que são as Organizações Mecaniscistas. Termo que remete as organizações que operam dentro de modelo tradicional, hierárquico e centralizado cujo modelo mental é cartesiano ou mecaniscista, ou seja, vê a organização como um sistema simples ou uma máquina.
Ora, se uma empresa é vista como uma máquina, as pessoas são peças de uma engrenagem que precisa funcionar (por isto são chamados funcionários), de preferência com a sua capacidade máxima. Neste paradigma, tempo é dinheiro e o que mais importa são ações, check lists, processos e resultados.
As Organizações Orgânicas, em contraponto, operam dentro de um modelo orgânico, que trata as pessoas como pessoas, assim como a organização como um todo, ou seja, uma organização dita orgânica funciona como um sistema aberto, complexo e interdependente que possui características próprias, como: auto-produção, auto-organização e auto-regeneração.
Isto não significa que elas desvalorizam o tempo, as ações, o check list, os processos e muito menos os resultados! Ser uma organização orgânica significa que além de dar importância para aquilo que produz, o como e o para que produz também importa. Na verdade, super importa, uma vez que existe muito valor na saúde de todos os envolvidos e na qualidade das relações (e do resultado, claro!).
Desta forma, elas buscam cuidar destes dois campos importantes: resultados e pessoas, coletivo e indivíduo, si mesmo e todo o ecossistema.
É por isto que as Organizações Orgânicas são organizações vistas e tratadas como um sistema vivo, complexo e que tem um propósito evolutivo, ou seja, muito mais do que ter lucro ou oxigênio financeiro, elas buscam significado e contribuição em forma de relação, legado e serviço.
Mas afinal, o que são Organizações Orgânicas?
A O2, como também é chamada as Organizações Orgânicas, é um sistema descentralizado de poder que incentiva a auto-gestão, a transparência e um processo adaptativo e evolutivo que estimula a colaboração, a agilidade e a inovação.
É uma nova forma de trabalhar e fazer gestão num contexto extremamente ágil, instável, dinâmico e complexo.
O sistema O2 foi adaptado pela Target Teal com base em outras estruturas sociais como a sociocracia e a holacracia. Ambas são sistemas que tem estruturas circulares de descentralização de poder e trabalhos em times pequenos e auto-geridos.
Para a Target Teal, uma consultoria de auto-gestão, “a O2 é uma tecnologia social que ajuda organizações a se tornarem mais adaptativas, auto-organizadas e focadas no propósito. Ela é composta por um conjunto de regras essenciais (os seus “Meta-Acordos”) e mais uma biblioteca de padrões em constante evolução”.
Neste modelo operacional, nada é rígido ou definitivo, tudo é possível de experimentação e adaptação e por isto a criação de acordos e de artefatos (intervenções ou experimentações para a evolução da organização) são tão importantes.
Dizem até que a O2 é a arte de se criar acordos.
É por isto que conhecer as “regras do jogo” como os Meta-Acordos ajuda entender como funciona a estrutura ou o campo estrutural e como se cria acordos para cuidar de um outro campo chamado tribal ou relacional.
A grande diferença entre um modelo tradicional triangular e hierárquico para o modelo orgânico circular e descentralizado é que enquanto o primeiro só cuida do campo estrutural e seus processos rumo aos resultados, o segundo também cuida das pessoas e suas relações, além de se atentar do como estes resultados são ou foram criados.
Olhar e cuidar para este campo relacional é um grande diferencial que permite transformar um campo de medo e insegurança num campo de confiança e coragem para experimentar e evoluir.
Como funciona a Organização Orgânica na prática?
Na prática, busca se criar uma estrutura simples mínima e acordos que explicitem o que é importante deixar explícito e claro para evitar desgastes desnecessários e dar maior fluidez para as ações. Em outras palavras: autonomia.
A estrutura mínima para se operar uma Organização Orgânica é: papel, círculo e reunião de círculo.
Papéis
O papel, por exemplo, é o menor acordo da estrutura e mostra quais são as responsabilidades e ações para o membro que “energiza”este papel (ou cumpre o que lhe cabe) ajudar no propósito da organização.
Enquanto o papel substitui o cargo (representado por uma caixa que contém um monte de expectativas), visualizamos o papel enquanto o menor círculo possível com um propósito e responsabilidades muito claras e explícitas.
Círculos
Os chamados círculos substituem os departamentos (grandes caixas geralmente com difícil acesso entre outras e muitos processos) e englobam estes papéis que precisam estar juntos para realizar um propósito comum.
Os círculos são facilmente criados e adaptados conforme necessidade e são representados por dois papéis estruturantes (elo externo e elo interno) que substituem a “liderança”e atuam com papel muito mais de conectar pessoas, papéis e propósito (ao invés de orientar, motivar, cobrar e se responsabilizar pelo outro ou pelo time).
O elo externo seria aquele que organiza a estrutura do círculo, convida pessoas para “energizar” papéis e agir como uma ponte que conecta o meio externo com o meio interno (traz as necessidades de fora para dentro e leva as necessidades de dentro para fora).

Organização Viva, Transparente e Dinâmica
Além de uma estrutura fácil de mudar é preciso ter muita clareza de papéis e dos acordos de como vão funcionar.
Uma organização orgânica é viva e portanto está em constante experimentação e mudança. Cada membro faz parte do todo e é co-responsável por ele. O modelo orgânico deixa muito claro a importância da responsabilidade deste pertencimento e da liberdade de atuar e modificar o sistema.
O que não está no acordo é possível desde que não gere nenhum prejuízo no sistema ou para algum membro do sistema. Como o sistema opera dentro de um campo de confiança e experimentação, ou seja, aprendizagem na prática, é natural acontecer erros ou algo que impeça o fluir natural do sistema.
Quando isto acontece, busca-se resolver com naturalidade, leveza e colaboração. Caso algum membro faça algo ou deixe de fazer alguma ação que provoque um desconforto em alguém ou cause um problema no sistema, naturalmente ocorrerá uma tensão.
Tensão
Mais claramente, a tensão pode ser entendida como a diferença ou o espaço entre o desejável e o percebido, seja de um membro ou de um coletivo. Imagine um elástico entre o que é e o que “deveria” ser (sob a perspectiva do agente observador).
As tensões fazem parte do sistema e do seu processo de desenvolvimento. Na verdade, as tensões são vistas como a forma da organização evoluir, uma vez que traz luz àquilo que ainda não era percebido.
Tensão, neste caso, não é só um problema, mas uma oportunidade, um desafio ou qualquer outra possibilidade que pode ser imprevisível, assim como pode ser provocada por uma causa interna ou externa.
Dentro da perspectiva sistêmica, a tensão também pode ser entendida como um desconforto por uma necessidade não atendida ou um princípio sistêmico desrespeitado.
Seria como uma espécie de indicador para incluir algo a mais, reorganizar, excluir o que não mais faz sentido ou revelar algum desequilíbrio no fluxo entre o dar e o receber do ecossistema.
Tensão, desta forma, é a mensagem que o sistema dá para convidar seus membros para novas possibilidades: uma ampliação de perspectiva, uma transformação, uma nova ação, etc.
A O2 é visto como um modelo que ensina à trabalhar juntos com auto-responsabilidade, ou seja, numa relação entre adultos e isto implica criar e cumprir acordos, assim como levantar e tratar tensões.
Reunião de Círculo
As reuniões de círculo são reuniões periódicas e estruturadas que existem para perceber e tratar tensões.
Elas são super importantes na prática para operar este sistema coletivo orgânico. Neste tipo de reunião se tem espaço para adaptar a estrutura, criar acordos, levantar e tratar tensões e cuidar das pessoas.
Além das reuniões de círculo existem outras reuniões de trabalho mais operacionais, mas estimula-se muito a auto-gestão e a autonomia destes pequenos grupos de trabalho que periodicamente se encontram para se conectar, atualizar, mudar algo ou cuidar de alguém, de uma relação ou do grupo (caso necessário) e evoluir juntos.
Organizações Orgânicas, organizações evolutivas
Sendo assim, tudo o que existe na organização está em busca de evolução e em constante adaptação e ajustes e pode mudar com mais facilidade e agilidade do que o sistema tradicional com sua estrutura hierárquica, seus cargos definidos e processos e regras mais rígidas.
Lembrando que além de cuidar e adaptar este campo estrutural com seus processos e resultado, o modelo orgânico cuida do campo relacional, ou seja, tudo o que se diz respeito as pessoas e suas relações.
Por isso o modelo orgânico é evolutivo, ou seja, as pessoas são convidadas à saírem do subterrâneo coletivo e das suas sombras individuais para praticarem juntas o que é mais importante numa conexão humana: vulnerabilidade. É uma prática de trabalhar na luz, sem máscaras, sem medo e sem estratégias disfuncionais.
Não é fácil e nem é para todos, mas vale a pena!
Quer experimentar uma Organização Orgânica e fazer parte desta jornada de evolução? Conheça a Target Teal e a Elos360, juntos podemos ajudar você a fazer diferente para fazer a diferença;)
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