A primeira vez a gente nunca esquece. Foi a frase que veio à minha cabeça quando senti vontade de escrever sobre a experiência que tive no Camp de auto-gestão promovido pela Target Teal.
Foi tão bom e recebi tanto, que assim como no ápice de uma relação sexual, senti a vontade de compartilhar como aquele transbordar de êxtase.
Pode parecer exagero, falta de experiência ou carência pós pandemia, mas não. Eu me considero uma pessoa bastante experiente para poder dizer que o Camp não foi só mais um. (Foram mais de 20 anos de participação em eventos com dinâmicas, cursos de autoconhecimento, congressos de psicodrama, sociodrama, etc).
Target Teal, sua linda!
Para quem não conhece a Target Teal ela é uma organização auto-gerida que ajuda outras organizações a reinventar suas estruturas e práticas organizacionais.
Na verdade mesmo, a Target Teal são pessoas lindas e inconformadas, assim como eu, que querem fazer diferente para fazer a diferença.
O Camp me permitiu conhecer melhor estas pessoas e me surpreender com elas. As provocações irreverentes, fortes e cirúrgicas do Ravi (embasadas num repertório de referências impressionantes), as pontuações centradas, sutis e humanizadas do Davi, as colocações seguras, espontâneas e divertidas do Rodrigo, o acolhimento, profundidade e sensibilidade da Fabi e da Tami. Sem falar da coragem e ousadia do Danilo, a persistência do Grilo e de cada particularidade e talento dos demais participantes desta rede.
Pensa num povo humilde que além de muito conteúdo tem muita segurança e expertise no que faz, são eles! Imagine um bando de gente inconformada querendo hackear o sistema! Quase uma tribo de rebeldes com causa que se unem numa espécie de ativismo social para mudar o mundo.
O camp também me incentivou a participar mais da sua rede de conexões chamada Tealnet, uma espécie de network que atua no Slack, nos Meets e sei lá mais aonde.
O Camp
O Camp de auto-gestão é uma imersão para compartilhar e trocar com as pessoas que: querem experimentar, estão experimentando, atuando em auto-gestão ou estão mentorando este novo sistema orgânico chamado O2, ou Organizações Orgânicas.
A experiência aconteceu nos dias 6 a 10 de julho de 2022 na Fazenda Furquilha em Monte Alegre. do Sul, uma ecovilla, abraçada pela natureza e sustentada por uma comunidade de moradores com propósito de sustentabilidade. A Fabi, uma das sócias da Target Teal mora lá e se responsabilizou em disponibilizar a estrutura de treinamento (com direito a uma alimentação orgânica farta e deliciosa).
O início do Camp não poderia ser diferente, dentro de um espaço acolhedor as pessoas se sentaram em círculo.
Para quem conhece as organizações orgânicas, o círculo já algo bem conhecido. Não só de estrutura física, mas de organização social. Para mim, é um formato familiar, natural de trabalho e profundamente significativo, uma vez que se assemelha ao útero, aonde se inicia a vida e nos remete a nossa ancestralidade.
Enquanto organização, todos estão dentro de um círculo maior, seja do planeta ou de um outro sistema vivo e complexo como um coletivo em que faz parte.
Aquele Camp era o circulo maior e uma das primeiras atividades foi escolher qual outro círculo menor e de dentro, cada um que gostaria de fazer parte.
Tinha o círculo da infra, da cozinha e da limpeza, onde já havia o elo externo ou o representante de cada um. Depois era escolher qual papel dentro deste círculo gostaria de energizar, eu escolhi o círculo da cozinha na parte da manhã e da tarde.
Desta forma, cada um ia experienciando o modelo de auto-gestão, com a clareza do propósito maior, dos papéis de cada um e dos acordos que iam sendo construídos a partir das tensões ou necessidades práticas daquela experiência.
Ensinar vivenciando, foi isso.
Depois de combinado como o Camp iria funcionar, todos foram convidados à participar do Open Space. Uma forma de co-construir a programação daqueles 4 dias. Cada um escrevia em post it o que gostaria de compartilhar e colocava na linha do tempo fixada na parede. Valia tudo e todos eram incluídos.
Assim, encontros propostos pelos especialistas e organizadores do evento se misturavam com as brincadeiras propostas pelas crianças e outros convites como yoga e meditação ou jogos (que para mim foi risadoterapia).
Os encontros aconteciam de forma informal, leve e com respeito à escolha de cada um. E isto era um combinado inicial para que as pessoas se sentissem a vontade para escolher como um beija-flor (ir de agenda em agenda), borboletar por aí aproveitando os outros espaços ou participar das agendas propostas. Sentamos na grama, no chão, no sofá, em balanço, perto do lago, dentro da sala, foram vários lugares e vários formatos.
Enfim, para mim o #camdeautogestao foi um convite para uma desconstrução e ampliação de novas perspectivas, um despertar para o que antes eu não via, percebia ou considerava importante.
Foi um convite para a minha criança interna, o meu adulto externo e aquela parte de mim que é uma eterna aprendiz.
Foi bom para você?
Caramba, foi do caramba.
Se tinha algo que desconstruí foi o discurso de que a mudança acontece de dentro para fora. A partir desta minha nova formação em Facilitadora de Organizações Orgânicas (curso que eles dão agora com o nome de PDA – Programa de Desenvolvimento de Auto-gestão), eu percebi que a mudança também acontece de fora para dentro, ou seja, quando se muda a estrutura, mudam processos, mudam pessoas e não nesta ordem e sem nenhuma certeza.
Agora eu digo que a mudança se dá de dentro para fora e de fora para dentro e de todos os lados também, ou não. Sim, bem paradoxal, ambíguo e complexo.
Vi o que em muitos lugares não costumava ver com tanta abertura e profundidade: pessoas se mostrando sem máscaras, armaduras, praticando vulnerabilidade, expondo fragilidades, reparando atitudes, pedindo ajuda e tendo coragem de ter conversas difíceis.
E foi assim. Uma experiência que senti que foi aceita de coração aberto por todos.
E o que fiz, de forma natural e sem pudor, foi me despir das poucas certezas que tinha e dos viéses que nem imaginava ter.
Este foi o começo desta minha relação que começou com uma paixão à primeira vista e se transformou num caso de amor com a Target Teal.
Tudo isso para dizer que a experiência no camp foi mais do que bom” para mim, foi ma ra vi lho so.